Rock (R)Evolution – Parte 5

ROCK (R)EVOLUTION

EPISÓDIO 5:

A VOZ DO POVO

Para ler ao som de: Bob Dylan acústico e elétrico, The Band, The Byrds, Buffalo Springfield

Em 1964, Bob Dylan já era um mito entre os seguidores da música folk. Líder de esquerda, trovador de hinos de protesto, bardo moderno… Os partidários do purismo musical e político tinham em Dylan um farol em meio à escuridão que ameaçava se abater sobre a América, envolvida mais e mais na Guerra do Vietnã. Violões, palavras de ordem e Dylan eram as únicas armas de que precisavam…

Mas Dylan precisava de muito mais. Ele queria se libertar da vigilância dos fãs que desprezavam qualquer música que adotasse o formato pop. O Delmonico Hotel, em Nova York, foi o local escolhido para o início do rompimento, e os Beatles foram os catalisadores.

O encontro arranjado fez com que os artistas descobrissem pontos em comum e ambições artísticas similares. Dylan apresentou a maconha aos garotos de Liverpool, e, após horas de novas experiências e impressões, todos saíram transformados. Os Beatles sentiram que investir em uma lírica mais profunda elevaria a qualidade de sua música. E o bardo percebeu que o formato voz e violão limitava-o como artista. A eletricidade podia conduzir sua poesia muito além do gueto folk.

1965. Como nos dois anos anteriores, Dylan se apresentava no Festival Folk de Newport como a grande atração da noite. Mal sabia a platéia, tão acostumada a ver o ícone empunhando somente o violão e a gaita, que ele preparava a fase final de sua libertação… acompanhado da Paul Butterfield Blues Band.

A eletricidade dos acordes plugados de “Maggie’s Farm” varreu o local, chocando os puristas. Vaias ensurdecedoras foram o eco resultante. O embate entre artista e público, entre o “traidor” e os “traídos”, arrastou-se por mais duas músicas, até que todos abandonassem o palco. Dylan voltou minutos depois, e encerrou o show de forma acústica.

Trailer do documentário “The Other Side of the Mirror”, sobre as apresentações de Dylan no Newport Folk Festival

O que soava como uma derrota mostrou-se um contra-ataque de mestre: um mês depois, em Manchester, o bardo se apresentou acompanhado por músicos de rock, que se tornariam sua banda de apoio oficial, The Band. “Judas!” foi o grito que resumiu os sentimentos do público. Com exata consciência do que estava fazendo, Dylan percorreu o caminho do mártir, de messias a traidor, e, com isso, mudou para sempre a face da música.

The Band

E foi uma canção de Dylan que cravou o ponto zero do folk rock: “Mr. Tambourine Man”, gravada pelos Byrds, a resposta americana aos Beatles.

Os Byrds tocavam folk americano com um instrumental derivado do rock britânico. Bandas como Buffalo Springfield e The Mamas & The Papas ajudaram-nos a levar o nascente folk eletrificado às paradas…

A banda do jovem Neil Young


… mas a consagração definitiva do estilo viria através de “Rubber Soul”, o mais ousado álbum dos Beatles até então.

No próximo capítulo: Beach Boys X Beatles: a guerra dos álbuns.

Sobre marcelobeat

Provavelmente o menos geek dos blogueiros, seu computador funciona com carvão e o girar de uma manivela que faz com que o vapor circule por toda a máquina, e sua conexão de internet consiste de um cabo amarrado a uma pipa, papagaio ou pandora. Mas ele se cansou de comprar papel almaço, então resolveu ter um blog. Comprem meu livro! "O SAFÁRI DOMÉSTICO", meu primeiro romance, está à venda pela AGBOOK, no endereço http://www.agbook.com.br/book/44234--O_Safari_Domestico
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Uma resposta a Rock (R)Evolution – Parte 5

  1. E assim gira a roda da humanidade… Qualquer inventor de um novo gênero, seja na música, na literatura, nas plásticas, ou mesmo no campo artístico metido a besta – chamado de ciência, por quem a inconsciência ainda é palavra de ordem – abala as “sólidas” estruturas da velha guarda, modelo máximo, sistema padronizado. Certamente, para inovar, é preciso admitir as consequências nada agradáveis pela nova criação, principalmente a negação e a exclusão dos grupos. Geralmente, os revolucionários, rompendo modelos existentes, são penalizados e execrados, considerados escórias. Apesar de serem vistos, por uma minoria insatisfeita, como mártires e deuses, sendo objetos de adoração e identificação. Mas no início, são apedrejados, pois ousaram mexer na fórmula do sucesso e da fortuna. Com o passar dos tempos, os paradigmas são alterados, e o modelo até então vigente, passa a ser o arcaico, e o que foi antes revolucionário, passa a ser o natural. Então, isso é sinal que novos destruidores de sistemas devem aparecer, abalando as estruturas, e depois acabando nas prateleiras e nos caixões do mesmo sistemas que antes quiseram romper.

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